Cheiro de você

                                         

Seu cheiro ficou. Não na minha pele ou nas minhas roupas, mas dentro de mim. Água e sabonete são incapazes de fazer com que ele suma. Já me compõe. Sou capaz de senti-lo todas as vezes que você passeia pela minha mente. E então eu respiro profundamente tentando encher o meu peito com este cheiro fantasma que é uma mistura de segurança, pele limpa, borboletas no estômago e lavanda. Fico desesperado para me afogar nele. Desesperado para me afogar em você.

Outras pessoas insistem em usar o seu perfume, e isso é tão profano e pecaminoso que deveria ser crime. Alegro-me ao ver, que em todas as outras pessoas que cometem a blasfêmia de utilizar o seu perfume não conseguem copiar teu cheiro. Falta alguma coisa, não é o mesmo cheiro que me embriaga, me enfeitiça. É algo genérico, vazio de poesia e livre de borboletas.

O olfato, esse filho bastardo de Mnemosine, a grande Deusa da memória, é o fio de Ariadne que me conduz pelo labirinto, caótico e confuso, em que as nossas lembranças estabeleceram moradia.  Basta sentir seu cheiro, ou o fantasma dele, para ser transportado para todas as situações em que vivemos. O primeiro encontro, o primeiro toque tímido, o primeiro beijo, o primeiro suspiro...  

É natural, primitivo e animalesco. Você me atraiu com o seu sorriso e me conquistou com a sua doçura. Seu toque delicado, sua conversa fácil, seu calor no frio. Tudo foi tão rápido e natural que parece coisa de filme, alma gêmea, destino ou como quiser nomear. Não acredito em nada disso, só acredito em você e eu. Só acredito no “nós”.

Seu cheiro ficou em mim, uma marca mais duradoura do que uma tatuagem, mais romântica que uma poesia, mais viva do que nós mesmos.